CARTA DE DANTE AO SR. THIERS
Sob esse título lê-se no Charivari de 20 de maio de 1865:
Florença, 20 de maio de 1865.
“Senhor e caro confrade,
“Eu não podia ficar indiferente às festividades que iam celebrar em minha honra e, tendo minha sombra pedido e obtido licença de oito dias, venho assistir à inauguração do monumento que me é consagrado. É, pois, de Florença que vos dirijo esta carta, ainda sob a emoção que me causou a cerimônia que acabo de testemunhar. Se tomo esta liberdade, senhor e caro confrade, é porque julgo estar em condição de vos fornecer informações que vos serão de alguma utilidade.
“Não obstante morto há cinco séculos, não deixei de continuar a seguir com a mesma atenção e o mesmo patriotismo a marcha dos acontecimentos que interessam ao futuro da Itália. Sabeis tão bem quanto eu de quantas vicissitudes tenho sido testemunha; também podeis fazer uma idéia de quantas dores meu coração foi assoberbado...”
(Seguem-se longas reflexões sobre os negócios da Itália e as opiniões do Sr. Thiers. Não as reproduzimos pelo duplo motivo de que são estranhas ao nosso assunto e porque a política está fora dos planos deste jornal. A carta termina assim:)
“Se, pois, como me afirmaram, em breve deveis empreender viagem à Itália, tende a bondade de passar por Florença e vir conversar alguns instantes com minha estátua. Ela terá coisas muito interessantes a vos dizer.
“Com esta esperança, senhor e caro confrade, rogo aceiteis a certeza de..., etc.”
Dante Alighieri
Por cópia, conforme Pierre Véron
A julgar pelos artigos que o Charivari publicou mais de uma vez sobre o assunto, duvidamos muito que o Sr. Pierre Véron seja simpático à idéia espírita. Assim, não se deve ver nessa carta mais que um simples produto da imaginação apropriado à
circunstância, a menos que o Espírito Dante tenha vindo ditá-la à revelia do autor. Ela é muito espirituosa para que ele não a desaprove, mas só deve ser apreciada em seu conjunto, porque perde muito se for fracionada.
Era um pensamento engenhoso fazer intervir, mesmo ficticiamente, o Espírito Dante nessa ocasião. Salvo alguns pequenos detalhes, um espírita não teria falado de outro modo. Para nós não é duvidoso que Dante, a menos que tenha reencarnado, pudesse ter assistido a essa imponente manifestação, atraído pela poderosa evocação de todo um povo irmanado num mesmo pensamento. Se, naquele momento, o véu que oculta o mundo espiritual aos olhos dos encarnados pudesse ser levantado,que imenso cortejo de grandes homens teria sido visto planando no espaço e misturado à multidão para aplaudir a regeneração da Itália! Que belo assunto para um pintor ou um poeta inspirado pela fé espírita!
Allan Kardec
R.E. ,
junho de 1865, p.
260
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